É preciso que este não seja o pior dos tempos

Escrevi o início de um texto com este título e o achei fenomenal. O texto também estava legal, mas falta a mim, falta a disposição, a energia, o fogo de artifício para que aquilo exista. Agora eu não o tenho. 

E, no entanto, eu o achei perfeito para retratar meus dias e minha luta. Esse título vem inspirado em Dickens: "Era o melhor dos tempos, era o pior dos tempos [...]". Nem de perto esse é o melhor do tempos, nem a pau! Mas também é preciso que não seja o pior deles e isso depende apenas de mim, infelizmente, hahahahahaha. 

Penso em Hirayama com certa frequência. O herói japonês de "Dias perfeitos", que acusei de falta de ódio. Queria acordar naturalmente como Hirayama e feliz. Fazer o que tem que ser feito e encontrar prazer em pequenas grandes coisas. Tenho falhado em tudo. 

Acordava lá pelas oito e gostava de abrir a janela e sentir o ar e a luz da manhã. Esse simples ato traz consigo novidade e esperança, mesmo entre as grades incômodas da janela da casa da minha mãe. Agora, por conta da esbórnia do período de festas e de uns ajustes nos meus remédios, tenho acordado um pouco mais tarde, de modo que não usufruo mais desse pequeno prazer. Mas nada está perdido, os dias continuam e o despertador amanhã tocará cedin.

Trabalho quando há trabalho. Mando currículos. Rezo. Leio. Converso com meu irmão e às vezes nos entendemos, às vezes não. Estava mais ativa na academia antes das festas também, coisa que também pretendo dar conta amanhã, embora eu nada goste daquele ambiente e sempre sinta falta da academia na esquina de casa dos tempos de Ribeirão Preto. Aquela academia não era cinza. Era azul e isso já me causava boa impressão. Detesto cinza, como quase todo mundo que me conhece sabe. 

Não fiz resoluções de ano novo, exceto uma: a de que o Bob Marley seja o artista mais ouvido do meu Spotify na retrospectiva de 2025. Penso que se eu ouvi-lo todos os dias, talvez eu fique cada dia mais em paz. Sou boba. De resto, não tenho resoluções, mas sim objetivos e o maior deles é ir embora. Ter minha casa novamente. Sair da minha Clínica Tobias Blues pessoal. Ontem lembrei que meus copos são azuis e tudo na minha casa era colorido e fiquei saudosa de ter podido viver um tempo com tanta cor.

Por fim, ontem pensei que devo arrumar bem arrumado todos os objetos da minha casa que estão no fundo da casa da minha mãe. Prenúncio de minha partida. Quero saber onde tudo está. Quero que tudo esteja no lugar para quando for finalmente o momento de ir embora. Fecho os olhos e peço novamente para que seja mais cedo do que penso. 

Mas, ainda assim, é preciso que este não seja o pior dos tempos, Fernanda. 

Você está bem. Você é saudável. Você é forte. Você tem um bom coração e uma vista bonita. Veja esses tempos, esses que você descreveu agora, como uma crônica da Natalia Ginzburg que você adoraria ler deitada em sua cama. Você se compadeceria dela, mas, ao mesmo tempo, se questionaria: como aquela mulher poderia ter alguma dúvida de que coisas boas aconteceriam a ela, tão especial que é?

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