amo arte e design, mas sabe o que detesto?
Elitismo.
E, infelizmente, poxa, toda vez que eu olho lindas obras e objetos, meu sentimento é agridoce.
Como eu amo coisas bonitas, bem-feitas!
E como detesto o preço delas!
E os conceitos, que poucos podem acessar, por trás delas!
Não me levem a mal, eu amo os conceitos também. Amo a brisa. Amo a intelectualidade. A tempestade mental que deu origem àquelas coisas todas. Os anos de estudo. Os anos de experiência. A vivência pessoal de cada artista.
Mas detesto a aura elitista que emana de cada cadeira perfeitamente perfeita que vejo. Aura tão forte que faz dela um objeto para qual bunda qualquer foi feita. Uma energia que afasta. Não consigo explicar, juro. E juro que, com esse texto, não estou subestimando a capacidade dos indivíduos de conseguirem apreciar arte e design, mas sinto verdadeiramente que a maioria das publicações, mídias ou lugares dedicados à arte e ao design, ou mesmo as obras, contêm em si um bom tanto de afastamento. Uma energia de repulsão ao público.
Não consigo elaborar bem esses meus pensamentos e sentimentos. Só sei que, queria que todos pudessem olhar obras com o coração aberto e senti-las, antes de tentar entendê-las, talvez? Queria que o sentimento fosse o primeiro estado de contato com qualquer coisa de natureza artística. Não o "gosto" ou "não gosto", mas sim o "sinto isso quando olho para aquilo". Então creio que talvez, a educação, em primeira instância, talvez devesse tratar de recuperar nossos sentidos? Sentimentos em relação ao mundo? Acordá-los? Espreguiçá-los?
Lembro-me de um causo que li, numa apostila da Poliedro, quando lia os materiais de Literatura do meu irmão. O poema da pedra no caminho, de Drummond, teve uma recepção terrível. E, certa vez, alguma literata (que eu me lembre), o leu para seu neto, como se fosse algo pueril e bobo, subestimando o poema e o neto. E levou a seguinte lapada: "Não achei engraçado. Senti uma coisa.".
"Sentir uma coisa" já basta. Queria que todos pudessem sentir coisas quando olham para as obras de arte e para lindos objetos lindamente pensados. Queria que a aura de afastamento não existisse. Eu juro que ela existe porque um dia já me senti assim diante delas.
Mas sabe do que gosto?
De arte perfeitamente pensada e que traz o público para si como uma boa mãe. Como o MASP, por exemplo. Não sei, sinto uma coisa boa com relação ao MASP. Sinto que é um edifício que todos olham e que a mensagem já se faz todinha perceptível e segue diretinho para o coração: um prédio flutuante. Quantos de nós não quisemos flutuar? Todos.
Este não é um tratado de estética. Não sei o que é este texto.
Mas detesto elitismo.
E sei que ele é a casca protetora de muitos artistas e intelectuais inseguros e emocionalmente frágeis por aí. Se escondem por trás dessa condição privilegiada e, ainda que mencionem que conhecem seus privilégios, não acredito. Sim, novamente vou para o campo das sensações. Se soubessem, não continuariam com a mesma postura repulsora, que também ainda não sei elaborar direito descrever como é.
Ah, acabei de me lembrar: a emoção que senti quando assisti ao documentário "Lixo Extraórdinário" (2011), de Lucy Walker, que mostrava o projeto de Vik Muniz no aterro do Jardim Gramacho.
Como me comoveu ver reação e emoção das pessoas quando reconheciam, de longe, suas próprias figuras, assemblages que ajudaram a confeccionar, prontas para serem fotografadas. Era uma arte que, pela falta de elitismo do artista, bem como pelo próprio processo de criação, é claro, conectava instantaneamente. Mas sinto que até hoje conecta. É raro ver alguém que não se conecte com a obra de Vik Muniz. Talvez por isso eu não veja tanto o seu nome em páginas dedicadas à arte. Seria muito popular? Não sei.
É isso. Detesto elitismo. E detesto aura elitista. E penso que devíamos regredir um pouco em nossos "pensa-pensa-pensa" e voltar um pouco ao "tempo em que sentíamos e sentir era a forma mais sábia de saber e a gente nem sabia" (Alice Ruiz), outro exemplo belíssimo de como o sentir nos conecta.
Muito sentir. Conclusão alguma.
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