Chorão, o padroeiro dos dias estragados e não estragados (isto é, de todos os dias)
Eu nem gostava de Charlie Brown Jr. na adolescência, pra início de conversa. Quer dizer, gostava sim. Mas fingia que não, porque ui, tocava na Malhação, porque ui, era mainstream. Eu não dizia que era mainstream, mas era isso que eu pensava com minha atitude blasé. Eu queria ser cool. Dá vontade de rir, porque: 1. eu não tinha nada a meu favor na época que me tornasse uma pessoa cool, 2. mesmo que eu fosse cool, acho que ninguém da minha cidade perceberia ou daria a mínima; e, 3. eu acho que eu era invisível, na real. Ainda hoje tenho a impressão de que sou, embora eu me espante com o fato de que sim, algumas pessoas me conhecem aqui onde moro. Só que também não foram raras as vezes em que me questionaram se eu era de fora. Isso não importa.
Novamente, nunca vou direto ao assunto, mas esse é meu jeitinho de ser. Ser verborrágica é dançar com as palavras e conduzir o leitor de forma bastante delicada ao assunto, que é o seguinte: Chorão, eu acho que eu gosto muito de você. E gosto de Charlie Brown. E eu fico falando das suas letras nos meus stories. E sempre me lembro de você quando tenho dias bons ou ruins. Acho que você conseguiu se tornar, Chorão, meu padroeiro de todos os dias. Quando um dia é bom, eu me lembro de você: "hoje ninguém estragou meu dia, vencemos, Chorão!". Quando estragam meu dia, eu me lembro de você "porra, Chorão, que merda, logo cedo essa parada já tá rolando!".
Hoje foi um dia totalmente estragado, Chorão.
E eu quero me lamuriar com você. Lá vai:
- Hoje eu não consegui fazer nada que eu considere prestável nos meus dias que prestam.
- Hoje me estresssaram e eu juro que quis jogar um prato na parede. Teria sido uma atitude razoável, lhe juro.
- Hoje fiquei zonza diante de um monte de informações acerca de uma decisão importante que preciso tomar.
- Preciso deixar a porta fechada para ter um pouco de paz, mas, com isso, acabo afastando o Totoro e, não raro o encontro na porta do meu quarto, o que me despedaça por dentro.
- Por fim, enquanto escrevo, ouço a vizinha maltratar seus filhos, como ela sempre faz, e choro. E eu me imaginei indo falar com ela, que se ela maltratasse os filhos novamente, iria denunciá-la, com gravações e tudo, pro conselho tutelar e isso e aquilo, juridiquês. Mas eu sei que tudo isso não adiantaria nada, porque essas crianças estão irremediavelmente enlaçadas com essa família. Como todos nós estamos quando nascemos. Vamos parar onde vamos parar. E se a gente escolhe isso lá no campo da espiritualidade, eu sei que eu vou me ver com a minha versão Eu superior por que raios eu passo por certas coisas! Onde estávamos com a cabeça criando esta ficção! Pelo menos até hoje, dia seis de junho de 2024. Se melhorar, me retrato, não tenho problema com isso não, sou bem humilde nesse aspecto.
É isso, Chorão, a bonequinha chorou, como diria minha xará.
E eu lhe transformei em algo que soa meio católico demais, peço perdão, mas lhe imaginar de um jeito meio santo é algo que me causa um sorrisinho de leve no rosto. Bem hoje. Um dia estragadinho. Bolo solado.
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