al otro lado del río

Tenho gostado de atravessar a ponte do Rio São Lourenço. Mesmo que seja um riozinho, poxa, como uma ponte faz diferença na vida! Gosto da ponte. Velha, velha. Lembro de atravessá-la quando era nova, pintadinha de azul. Gosto dessas lembranças materiais da cidade. De quando caía água da cascata da Praça Alfredo de Paiva Garcia. De olhar a cidade da vista do Sorvetão. De quando eu saía tão pouco de casa que não conhecia nem o Benassi, parecia um bairro longe do meu.

Mas a ponte me causa um sentimento mais do que nostálgico. É algo meio ancestral até. Será que era fácil ou difícil atravessar o Rio São Lourenço quando Matão era só mato? Qual seria a lonjura entre as bordas? Existiam rios filetes de água assim como ele é hoje? Não sei, geografia natural nunca foi o meu forte. De qualquer forma, me lembrei esses dias da música "al otro lado del río" enquanto atravessava o Rio São Lourenço. E da cena em que Gael, o Che jovem, nada até o outro lado do rio para ficar junto das pessoas "proibidas, adoentadas, contaminadas". 

Quando me lembro dessa música e dessa cena, penso que a luz não está do outro lado do rio. Mas naquela pessoa que está nadando, sabe? Com coragem, com gana e com idealismo. Que tem coragem de se jogar. Porque lhe doem tanto certas coisas, que nada mais importa do que a vida: a vida ela-mesma, sabe? 

Sabe quando tudo perde o sentido? Quando você está tão absorvido pelas coisas mundanas e daí vem algo que lhe balança tanto, lhe choca tanto, que tudo aquilo que você estava tomando como importante começa a parecer fútil, pequeno, mesquinho e de repente não há nada mais que preste, tanto que a única coisa que começa a parecer importante e verdadeira é só a vida? Só ela. Pois é. Sinto tudo isso quando atravesso, em três segundos, a ponte do Rio São Lourenço. 

Fiquei feliz de poder escrever e elaborar isso. Quanto sentimento há em três segundos!

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