agorafobia
Em todos esses anos desta indústria vital, EUZINHA MESMA, 31 anos, quase 32, inúmeros foram os sentimentos inexplicáveis que tive. Muita coisa sem nome. Muita coisa que eu nem sabia que outras pessoas sentiam também.
Eu não sabia que já tinha sofrido vários episódios depressivos ao longo da minha vida. Também não sabia que a minha ansiedade e coisas que aconteciam comigo poderiam estar numa lista de um problema chamado "transtorno de ansiedade generalizada".
Como assim alguém também pode, do nada, morrer de medo que aconteça um desastre com alguém da sua família, mesmo que não esteja acontecendo nada? Mesmo que você esteja apenas assistindo a um episódio de série da Netflix? Como é possível você precisar, no dia anterior, pensar antecipadamente em todas as ruas que você irá pegar, todo o trajeto, para conseguir dirigir e conseguir se transportar a um lugar?
Então, muito espanto tive esses dias ao entender que também sinto algo que tem nome. Que outras pessoas também sentem. E algo de que poucas pessoas falam. E tem um nome esquisito, que nos induz ao erro, né? Agorafobia. Parece que sentimos medo do agora. Não. Não é isso.
É louco, mas às vezes eu me sinto paralisada ao me imaginar em alguns lugares. Me sinto um copo frágil, daqueles que se quebram na mão. Sinto que vou passar mal. Que "algo pode acontecer". Me lembro, então, do conto "O homem no estojo", de Tchékov, que o Zaga, outro literato matonense da faculdade, nos mandou ler. Era um personagem cuja frase mais recorrente era "contanto que não aconteça alguma coisa". Vivia protegido, precavido, como num estojo. E com medo de algo pudesse acontecer.
Não sei por que guardei na memória este conto, de tantos que li. Talvez o inconsciente saiba mais que eu, na real, né? Queria descrever como me sinto, mas não consigo muito bem. Mas queria tentar. Ao menos tentar.
Eu me sinto pesada, embora leve. Sinto que algo me prende, como cordas de marionete. Como um guindaste, mais como um guindaste, na verdade. Um guindaste invisível, pesado e parado, que me impede de andar. E quando saio, sinto um pouco de vertigem e reconheço as coisas reais, às vezes percebo que não há nada de errado nelas; noutras, elas me parecem um pouco esquisitas, diferentes de um jeito que não sei explicar, no entanto, ao fim e ao cabo, o que prevalece é a angústia: sinto que posso passar mal e não quero passar mal em público. Não mais.
Quando estou onde preciso estar, que é o lugar que tenho mais ido, a academia, sinto que qualquer deslize, qualquer coisa que pareça fora da ordem das coisas pode me provocar um desequilíbrio. E que vou sentar e chorar. E chorar. E chorar. E vão me perguntar o que eu tenho e eu vou precisar responder que não tenho nada, exceto a sombra das coisas que me aconteceram e que me acompanham de vez em quando, como nuvens, como um tempo fechado na iminência da chuva. Nem sempre estou assim. Mas às vezes estou. Estou agora. E me entristeço porque não era para ser tão difícil. Não era.
Viver é muito perigoso, já diria Riobaldo. O viver se manifesta de tantas e variadas formas. São tantas as variáveis de desequilíbrio numa vida.
Mas, ainda assim, e sempre: viver é fantástico. E vou transpor isso.
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