O meu irmão
Tenho personagens que me esperam.
Uma reza que ainda não fiz, porque estava meio brava com Deus.
Tenho que atualizar meu cancioneiro.
Olhos cansados.
Porém, o que me deu mesmo, foi vontade de escrever sobre o meu irmão.
O meu irmão é lindo. Lindíssimo. Sempre foi, exceto naquela fase em que todo mundo é meio feinho. Ninguém escapa dela.
Mas quando ele floresceu: uau! E eu logo me percebi como alguém, de certa forma, popular: a irmã do Paulo Vinícius. Um dos meninos mais lindos da cidade. E continua, viu? Agora homem.
Enfim, eu gostava de ser irmã do Paulo Vinícius. As meninas mais velhas vinham falar comigo, querendo saber coisas dele. E eram meninas interessantes, de quem eu queria ser amiga, se pudesse.
E meu irmão me levava a todos os lugares de carro, mesmo sem ter tirado carteira de motorista, já que minha mãe não dirigia e não tinha quem nos conduzisse por aí. Era ele quem me levava à escola, às aulas de baixo. E certa vez a gente foi pra aula de baixo ouvindo Rammstein muito alto e eu achei aquilo cool demais, apesar de não gostar do estilo da música.
E meu irmão me ensinou várias músicas. E a pronunciar PR e PL. PL me fazendo repetir exaustivamente a palavra "Playboy" KKKKKKKKKKKKKKK.
E ele era rebeldinho.
Já pintou o cabelo de todas as cores possíveis.
E dava festinhas nas férias.
E ele namorava meninas de quem eu gostava.
A Gabi foi a que mais se aproximou de mim, eu acho. Ela não ligava que eu assistisse a filmes junto deles. Nós assistíamos a muitos filmes. Mas gosto de todas. Inclusive, a Gabi é que não tenho mais contato. Engraçado isso. C'est la vie.
E ele foi a única pessoa que me viu colar grau na oitava série. E eu fui sua única familiar em sua colação de grau da Fatec.
Nas férias, assistíamos a muitas séries. Ficávamos acordados até tarde. Por um tempo, até fofocávamos sobre muitas coisas, meninas e meninos da cidade.
Ele judiava um pouco de mim quando eu era criança, mas me ensinava muitas traquinagens também. É preciso aprender a não ser boba. E nada como ter um irmão mais velho pra isso.
Ele me fazia de gato e sapato. Me fazia brincar de ninja. Eu era goleiro nas nossas brincadeiras de jogar bola. O portão era o gol. Eu sempre perdia.
Também tinha nossa brincadeira da "Ponte do rio que cai", em que fazíamos uma ponte com os estofados do nosso sofá e tentávamos derrubar o outro com travesseiradas. Eu também caía bastante.
Teve uma viagem pra Caldas Novas que fizemos mil versões de "Não aprendi dizer adeus", uma marcante foi a que trocávamos a palavra "adeus" por "fofines", uma bolacha de cajuzinho que amávamos e aparentemente só nós dois nos lembramos da existência. O Leandro estava mal naquela época. Deus o tenha!
E teve um aniversário quando eu era pequena, que eu fui convidado e ele não, em que eu fiz um saquinho de salgadinhos e segurei a festa inteira, sem curtir quase nada, sem brincar, só porque ele não estava lá. E, no fim, eu deixei o pacote cair no chão. Um pacotinho todo engordurado no chão do banheiro do Pantheon. E fiquei triste porque não tinha levado os salgadinhos pra ele.
Meu irmão é esquecido.
Muito inteligente. Rápido. Ágil.
Meio rabugento.
Esbraveja e, depois de pensar melhor, vê que fez merda e pede desculpas. Dá carinho.
E faz panquecas de banana. Com muita canela.
As panquecas de banana com canela perfumam a casa inteira. E eu fico muito feliz com isso. Gosto de ter um casa com quentinho e cheiro de panquecas de banana com canela.
Nós sabemos quem somos. Da onde viemos. Ele é a única pessoa que sabe exatamente o que nós vivemos. O que ainda vivemos. Nossa parte neste latifúndio chamado família. E essa ligação nos torna, na verdade, irmãos, na maior grandeza que essa palavra emana. Mas talvez caiba um superlativo: irmãozãos.
Te amo, Vi. Obrigada por ser meu irmão mais velho.
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