Hirayama, te falta ódio

 Sim, é impossível não gostar do Hirayama, personagem de "Dias perfeitos". Para mim, a primeira impressão do filme é a de que eu estava assistindo a um haicai. O personagem de hábitos simples. Não precisa de muito dinheiro, graças a Deus, já cantaria a música. Não tem ambições. Faz seu trabalho, dorme quando sente sono e acorda naturalmente antes de o sol nascer. 

Mas algo me incomodou em você Hirayama. Aliás, não em você, personagem lindo dessa ficção de meu Deus, mas na construção do filme como um todo. Nessa romantização em torno de uma simplicidade que, porra, será que existe mesmo de forma tão bonita? O Hirayama tomava refri e comia cup noodles! Vivia num cubículo apertado! Tava bom pra ele no filme? Tava. Mas será que não tem uma alienaçãozinha por trás disso? Será que não? Eu acho que sim. Será que por trás desses dias perfeitos não há uma grandessíssima reificação? Eu acho que sim. E é tudo tão frufru. Tão orientalismo. Tão vídeos ASMR de rotinas perfeitas: olha como ele é simples! Olha como ele gosta da rotina dele! 

Porra, que maravilha! Eu amei o Hirayama. Amo pessoas simples. Queria ser simples. Queria muitão. Mas sou complexa. A ponto de ficar pensando tanto no filme que não o achei mais um haicai, mas uma grande farsa. 

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