alguma coisa urgentemente
[...] e fui correndo pro quarto e vi que o meu pai estava com os olhos duros olhando pra mim, e eu fiquei parado na porta do quarto pensando que eu precisava fazer alguma coisa urgentemente.(João Gilberto Noll)
Quando eu li o conto "Alguma coisa urgentemente", de João Gilberto Noll, essa última frase me chamou muito a atenção. Era um fim perfeito. A simplicidade de uma frase que conseguia englobar toda uma dor sem nome: "pensando que eu precisava fazer alguma coisa urgentemente". Quantas vezes essa frase me brotou na cuca. Quantas vezes me coloquei no lugar desse personagem que, infelizmente, só pensava que precisava fazer algo urgentemente. Faria? Fez? Não sei.
Não me lembro de nada do conto a não ser dessa frase, que me parece o maior símbolo da impotência — pelo menos, que eu tenha lido. Da dor da impotência. E da dor da urgência perante à impotência.
Penso que preciso fazer algo urgentemente.
Penso agora mesmo.
É esse algo que não tem nome, esse algo que não existe, que não se mostra.
É essa urgência que arde.
É esse pensar que corrói.
Não existe Deus ex machina, Fernanda. Ninguém vai te salvar.
As coisas à minha volta são pesadas demais. Meu viver é pesado demais. Eu tento ser leve. Mas tudo ao meu redor pesa e contrasta com a minha natureza. Não sei por que esse fardo tão grande. Não sei o que fazer a não ser pensar e escrever que preciso fazer algo urgentemente. Então escrevo. Como uma reza. Pra aplacar a dor. Pra fazer sentido, se é que há algum.
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