A velha

 A velha não tem nome. 

Não sei o nome daquela velha. 

Infelizmente, uso a palavra velha de modo pejorativo, mesmo tendo no meu coração que isso não é xingamento, jamais deveria ser. Mas ela é uma decrépita. 

Eu a ouço todos os dias, xingando os seus netos, gritando com seus netos. Hoje, enquanto estava no banheiro, ouvi o modo como ela gritava chamando-os para o banho, berros agressivos, raiva na voz. 

Não sei o que fazer. Já liguei ao conselho tutelar. Talvez deva ligar novamente. Mas de que adianta? 

Eu sinto tanto pela família em que essas crianças nasceram. Fico triste pelos traumas que possivelmente, aliás, muito provavelmente, terão. Sinto muito que não tenham paz. Ninguém deveria ser chamado para tomar banho daquele jeito. Se estavam assistindo à tevê, que mal tem nisso?

A velha. Como é ruim. Como me lembra da palavra ruindade. Como ela toda é a ruindade em pessoa. 

Nem sei se deveria eternizá-la. Talvez, quando for velha, fosse melhor que não me lembrasse desse tempo em que sou obrigada a ouvir a velha e as crianças convivendo com ela. 

Mas não sei. 

Deu vontade de maldizê-la

Meu pequeno segredo contra ela. 

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